domingo, 7 de outubro de 2012

Via Francígena di San Francesco – relato de uma caminhada de Assis até Roma.


Trilhar o caminho de Assisi (Assis) a Roma, 270 km em 10 dias, pela Via Francígena di San Francesco (São Francisco) valeu a pena! Esta via, diz a história, foi percorrida pelo santo em 1210 quando se dirigiu a Roma para solicitar aprovação da Ordem dos Franciscanos, junto ao papa Inocêncio III. Conta também a Enciclopédia Barsa Universal, que o santo renunciou ao nome de João, trocando por Francesco (o francês) quando rompeu com seu pai, um rico comerciante, e decidiu servir a Deus fazendo votos de pobreza, mostrando quanto a igreja da época estava distante dos ensinamentos do evangelho. Seu modo de pensar e agir teve grande impacto. Muitos padres franciscanos se espalharam pelo mundo criando novos paradigmas, pregando pelas crenças e vivências de São Francisco de Assis.
 
Existem outros caminhos mais conhecidos na região de Assis, porém queríamos um caminho de maior distância e com foco definido. Assim, escolhemos esta Via Francígena. Inicialmente percorremos de Assis até Poggio Bustone e Rieti. Esta região foi onde São Francisco se criou, amadureceu seu ideal de renúncia aos bens paternos, teve contato íntimo com a natureza e assumiu a ideia de reparar a igreja.
Esta sinalização, próxima da igreja de São Rufino, orienta a direção a seguir, a partir de Assis.
Cuidado! Nas cercanias de Assis, há sinalização de vários caminhos! Durante nossa caminhada, por três vezes, a sinalização deixou de existir exigindo esforço extra para dar sequência ao nosso intento.
 
Nos primeiros dias, passamos por regiões mais altas, de difícil acesso, mas o visual compensou
 
As cidades antigas ficavam situadas no alto dos morros - proteção contra invasores? O difícil é que tinhamos que caminhar até aquelas posições!!
 
Hora de recuperar as energias, brindar e agradecer por estar naqueles lugares maravilhosos!!
 
Não há albergues neste caminho. Assim, a opção pernoite era pequenos hoteis ou pousadas
 
A segunda parte deste caminho entre Rieti e Roma, quando faltam os 100 km finais, tem grande interesse histórico relacionado as estradas utilizadas pelos  romanos (Via Salária e Nomentana Antica, por exemplo), estações termais, santuários, abadias e castelos antigos.
Por três vezes nos perdemos por sinalização deficiente. Aqui em Scandriglia, tivemos a sorte que um gentil italiano nos levou até uma pousada perto do caminho  

Minha esposa e eu, juntamente com outro casal e outro peregrino amigo fizemos o caminho até Roma. Foi um caminho bastante duro devido à variação de altimetria e chão irregular com muitas pedras, principalmente nos primeiros 6-7 dias. Os últimos três dias também foram difíceis devido a problemas de sinalização deficiente, especialmente nos dois últimos percursos já nas cercanias (área metropolitana) de Roma. Este caminho necessita melhorar em termos de organização e logística. Faltam centros de informações nas cidades principais, especialmente Assis, Rieti e Roma. Em nosso planejamento tivemos dificuldade de encontrar informações na internet sobre este caminho. Há outros caminhos focados em São Francisco, Assis e Rieti com mais informações disponíveis.

Se até Rieti os pontos marcantes são ligados à vida de São Francisco, depois até Roma estão mais relacionados aos romanos
 
Detalhando, saímos de Assis, dia 15 de maio de 2012, tendo passado nas seguintes cidades: Spello, Trevi, Spoleto, Arrone, Piedilucco, Poggio Bustone, Rieti, Poggio San Lorenzo, Santa Maria (Montorio Romano), Monterotondo, Monte Sacro e finalmente Roma dia 24.
Entre Monterotondo, Montesacro e Roma - o caminho alterna vias asfaltadas e no campo

As maiores dificuldades foram: sinalização de percurso, às vezes deficiente; locais para alimentação e pernoite insuficientes ou inexistentes. Não há albergues neste percurso, utilizamos normalmente pequenos hotéis, por três vezes Centro de Agriturismo. Na região de Montorio Romano, existia um Convento que oferecia pernoites aos “romeiros” mas ficava fechado à tarde e noite.
Perto de Roma, mas perdidos no campo!!
A alegria de caminhar pela Via Francígena di San Francesco, o passar pelos mesmos caminhos e cidades trilhadas pelo santo, a temperatura amena que geralmente nos acompanhou, o cantar dos pássaros, a disponibilidade de cerejas, amoras, etc., as montanhas e campos com vinhedos e plantação de cereais, reflorestamentos, vias romanas (Salária e outras), caminhos com sombras – que nos permitiram fazer introspecções e reflexões. A companhia e interação do grupo foi muito boa. Somamos nossas forças para superar as dificuldades e manter o espírito livre e alegre. Tínhamos no grupo um que falava em italiano, isto foi fundamental em muitas ocasiões e o wireless do celular permitiu fazer algumas reservas para pernoitar.
Frutas da vez: cerejas e amoras
 
Algumas vezes compartilhamos fotos durante o caminho com o pessoal da ACACSC. O receber alguma resposta nos mantinha conectados. Durante os dez dias encontramos raros caminhantes. Imediatamente após Assis tivemos a companhia de peregrinos que estavam fazendo a segunda parte do Caminho Di qui passó Francesco até Poggio Bustone. Tanto o caminho Di qui passó Francesco como os caminhos nas redondezas de Rieti são mais organizados. Quem quiser percorrer este primeiro, de preferência, deveria utilizar guias locais que conhecem os pontos chaves ligados aos fatos mais marcantes da vida de São Francisco.
Dia 24 de maio, na praça do Vaticano, sem ter passado pela ponte Milvio e ainda sem o Testemonium, mas além de peregrinos também romeiros. Valeu!!!
Se fosse perguntado, se recomendaria alguém fazer a Via Francígena di San Francesco nos dias de hoje, a resposta seria não. Os caminhos em torno de Rieti são recomendados e o Di qui passó Francesco - só com guias locais. Mas concluindo, atualmente, com um bom planejamento, com via orientada pelo GPS, telefone celular com número da Itália para facilitar reservas para pernoite e adequação de imprevistos, de preferência peregrinos mais preparados, “daria para encarar”. Resumindo, nesta via podem-se vivenciar os locais mais importantes onde viveu São Francisco; passar por caminhos milenares dos romanos, visitando seus sítios arqueológicos; curtir a terra e um país que tem muitos descendentes de italianos no Brasil; suas videiras e oliveiras. Com tudo isto, degustando sua culinária com óleo de oliva de qualidade e vinhos diferenciados seria inesquecível.
Num futuro, que espero não ser distante, com organização esta via que percorremos, permitirá ao romeiro chegar a Roma em pleno século XXI seguindo por vias bem sinalizadas e com suporte de albergues e de alimentação contemplando paisagens e culturas diferentes, onde romanos e outros povos viveram há milhares de anos, interagindo com os italianos que lá vivem e refletindo sobre o mito que foi São Francisco que deixou o conforto, fez penitências, amou a natureza e realizou grandes mudanças na igreja católica. Um viver simples e ecológico. Ele nos deixou um legado: reflexão sobre nossas vidas, amor à natureza, acreditar em nossas crenças...
 
Livros recomendados:
1-    Na estrada com São Francisco de Assis, escrito por Linda Bird Francke – editora Record;
2-    A Conspiração Franciscana; John Sack; editora Arqueiro.
Sites selecionados que ajudam a organizar o caminho de Assis até Roma:
1-    www.viafrancigenadisanfrancesco.com - (referente os últimos 100 km, entre Rieti e Roma);
2-    www.camminodifrancesco.it - (caminhos centrados em Rieti);
3-     www.diquipassofrancesco.it - (caminho mais tradicional de La Verna-Assis-Poggio Bustone);
 
Outros esclarecimentos:

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