Trilhar
o caminho de Assisi (Assis) a Roma, 270 km em 10 dias, pela Via Francígena di
San Francesco (São Francisco) valeu a pena! Esta via, diz a história, foi percorrida
pelo santo em 1210 quando se dirigiu a Roma para solicitar aprovação da Ordem
dos Franciscanos, junto ao papa Inocêncio III. Conta também a Enciclopédia
Barsa Universal, que o santo renunciou ao nome de João, trocando por Francesco
(o francês) quando rompeu com seu pai, um rico comerciante, e decidiu servir a
Deus fazendo votos de pobreza, mostrando quanto a igreja da época estava
distante dos ensinamentos do evangelho. Seu modo de pensar e agir teve grande
impacto. Muitos padres franciscanos se espalharam pelo mundo criando novos
paradigmas, pregando pelas crenças e vivências de São Francisco de Assis.
Existem
outros caminhos mais conhecidos na região de Assis, porém queríamos um caminho de
maior distância e com foco definido. Assim, escolhemos esta Via Francígena. Inicialmente
percorremos de Assis até Poggio Bustone e Rieti. Esta região foi onde São Francisco
se criou, amadureceu seu ideal de renúncia aos bens paternos, teve contato
íntimo com a natureza e assumiu a ideia de reparar a igreja.
Esta sinalização, próxima da igreja de São Rufino, orienta a direção a seguir, a partir de Assis.
Cuidado! Nas cercanias de Assis, há sinalização de vários caminhos! Durante nossa caminhada, por três vezes, a sinalização deixou de existir exigindo esforço extra para dar sequência ao nosso intento.
Nos primeiros dias, passamos por regiões mais altas, de difícil acesso, mas o visual compensou
As cidades antigas ficavam situadas no alto dos morros - proteção contra invasores? O difícil é que tinhamos que caminhar até aquelas posições!!
Hora de recuperar as energias, brindar e agradecer por estar naqueles lugares maravilhosos!!
Não há albergues neste caminho. Assim, a opção pernoite era pequenos hoteis ou pousadas
A
segunda parte deste caminho entre Rieti e Roma, quando faltam os 100 km finais,
tem grande interesse histórico relacionado as estradas utilizadas pelos romanos (Via Salária e Nomentana Antica, por
exemplo), estações termais, santuários, abadias e castelos antigos.
Por três vezes nos perdemos por sinalização deficiente. Aqui em Scandriglia, tivemos a sorte que um gentil italiano nos levou até uma pousada perto do caminho
Minha
esposa e eu, juntamente com outro casal e outro peregrino amigo fizemos o
caminho até Roma. Foi um caminho bastante duro devido à variação de altimetria
e chão irregular com muitas pedras, principalmente nos primeiros 6-7 dias. Os
últimos três dias também foram difíceis devido a problemas de sinalização
deficiente, especialmente nos dois últimos percursos já nas cercanias (área
metropolitana) de Roma. Este caminho necessita melhorar em termos de
organização e logística. Faltam centros de informações nas cidades principais,
especialmente Assis, Rieti e Roma. Em nosso planejamento tivemos dificuldade de
encontrar informações na internet sobre este caminho. Há outros caminhos focados
em São Francisco, Assis e Rieti com mais informações disponíveis.
Se até Rieti os pontos marcantes são ligados à vida de São Francisco, depois até Roma estão mais relacionados aos romanos
Detalhando,
saímos de Assis, dia 15 de maio de 2012, tendo passado nas seguintes cidades:
Spello, Trevi, Spoleto, Arrone, Piedilucco, Poggio Bustone, Rieti, Poggio San
Lorenzo, Santa Maria (Montorio Romano), Monterotondo, Monte Sacro e finalmente
Roma dia 24.
Entre Monterotondo, Montesacro e Roma - o caminho alterna vias asfaltadas e no campo
As
maiores dificuldades foram: sinalização de percurso, às vezes deficiente; locais
para alimentação e pernoite insuficientes ou inexistentes. Não há albergues
neste percurso, utilizamos normalmente pequenos hotéis, por três vezes Centro
de Agriturismo. Na região de Montorio Romano, existia um Convento que oferecia
pernoites aos “romeiros” mas ficava fechado à tarde e noite.
Perto de Roma, mas perdidos no campo!!
A
alegria de caminhar pela Via Francígena di San Francesco, o passar pelos mesmos
caminhos e cidades trilhadas pelo santo, a temperatura amena que geralmente nos
acompanhou, o cantar dos pássaros, a disponibilidade de cerejas, amoras, etc.,
as montanhas e campos com vinhedos e plantação de cereais, reflorestamentos, vias
romanas (Salária e outras), caminhos com sombras – que nos permitiram fazer
introspecções e reflexões. A companhia e interação do grupo foi muito boa.
Somamos nossas forças para superar as dificuldades e manter o espírito livre e
alegre. Tínhamos no grupo um que falava em italiano, isto foi fundamental em
muitas ocasiões e o wireless do
celular permitiu fazer algumas reservas para pernoitar.
Frutas da vez: cerejas e amoras
Algumas
vezes compartilhamos fotos durante o caminho com o pessoal da ACACSC. O receber
alguma resposta nos mantinha conectados. Durante os dez dias encontramos raros
caminhantes. Imediatamente após Assis tivemos a companhia de peregrinos que
estavam fazendo a segunda parte do Caminho Di qui passó Francesco até
Poggio Bustone. Tanto o caminho Di qui passó Francesco como os caminhos
nas redondezas de Rieti são mais organizados. Quem quiser percorrer este
primeiro, de preferência, deveria utilizar guias locais que conhecem os pontos
chaves ligados aos fatos mais marcantes da vida de São Francisco.
Dia 24 de maio, na praça do Vaticano, sem ter passado pela ponte Milvio e ainda sem o Testemonium, mas além de peregrinos também romeiros. Valeu!!!
Se
fosse perguntado, se recomendaria alguém fazer a Via Francígena di San
Francesco nos dias de hoje, a resposta seria não. Os caminhos em torno de Rieti
são recomendados e o Di qui passó Francesco - só com guias locais. Mas concluindo,
atualmente, com um bom planejamento, com via orientada pelo GPS, telefone
celular com número da Itália para facilitar reservas para pernoite e adequação
de imprevistos, de preferência peregrinos mais preparados, “daria para encarar”.
Resumindo, nesta via podem-se vivenciar os locais mais importantes onde viveu
São Francisco; passar por caminhos milenares dos romanos, visitando seus sítios
arqueológicos; curtir a terra e um país que tem muitos descendentes de
italianos no Brasil; suas videiras e oliveiras. Com tudo isto, degustando sua
culinária com óleo de oliva de qualidade e vinhos diferenciados seria
inesquecível.
Num
futuro, que espero não ser distante, com organização esta via que percorremos,
permitirá ao romeiro chegar a Roma em pleno século XXI seguindo por vias bem
sinalizadas e com suporte de albergues e de alimentação contemplando paisagens
e culturas diferentes, onde romanos e outros povos viveram há milhares de anos,
interagindo com os italianos que lá vivem e refletindo sobre o mito que foi São
Francisco que deixou o conforto, fez penitências, amou a natureza e realizou
grandes mudanças na igreja católica. Um viver simples e ecológico. Ele nos
deixou um legado: reflexão sobre nossas vidas, amor à natureza, acreditar em nossas
crenças...
Livros recomendados:
1-
Na
estrada com São Francisco de Assis, escrito por Linda Bird Francke – editora
Record;
2-
A
Conspiração Franciscana; John Sack; editora Arqueiro.
Sites
selecionados que ajudam a organizar o caminho de Assis até Roma:
1-
www.viafrancigenadisanfrancesco.com - (referente os últimos 100 km,
entre Rieti e Roma);
Outros esclarecimentos: